Começa a viagem para o Monte Roraima entre eu e meu velho amigo de viagem Marcelo Tueiv. Uma viagem cheia de desafios e novas experiências.
Na verdade o começo é a preparação. Treinamento fisico, compra de equipamentos, roupa segunda pele, kit de primeiros socorros, roupa permeável, meia para evitar bolhas, mochila cargueira e por aí vai. Para maiores informções recomendo o site http://www.cariocaemfuga.com/2014/06/monte-roraima-o-que-levar-para-o-trekking.html
Na preparação apenas o computador ficou para trás. Esta é uma viagem para desligar de tecnologia. Engraçado como sair sem o computador é como sair de casa achando que esqueçeu alguma coisa.
A ida ao extremo norte do Brasil começou saindo do aeroporto de Congonhas (São Paulo) e indo até Brasilia. De Brasilia até Manaus e finalmente Manaus até a cidade de Boa Vista em Roraima. Chegando em Boa Vista ficamos no Hotel Barrudada. Bem simples mas com café da manhã honesto. Próximo desafio foi chegar na fronteira com a Venezuela e consequentemente chegar a cidade de Santa Elena de onde sairia a nossa expedição.
Vimos que haviam opções de onibus, taxis coletivos e taxis particulares. Uma variável que colocou um pouco mais de aventura nesta viagem foi o fato de saber que o governo Venezuelano fecharia a fronteira em função das eleições. Isso fez com que ficassemos preocupados. No final descobrimos que isso só ocorreria no dia seguinte. Optamos por pegar um taxi coletivo com uma familia de pastores Brasileiros que pregavam na Venezuela e um motorista que estava feliz com a sua ocupação atual em função de no passado ter trabalhado em algo muito mais cansativo como minerador. Mais 2 horas de estrada.
Na fronteira voce tem a opção de utilizar somente a identidade e passar diretamente pela alfandega pegando o "permiso" ou pegar uma fila gigante e utilizar o passaporte. Fica a dica. Traga a identidade. Nem precisa dizer que esquecemos a identidade e pegamos a fila do passaporte. Tempo de espera foi pouco menos de 1h.
No cruzamento da fronteira não encontramos nenhum taxi Venezuelano. Depois de um bom tempo de molho, achamos dois Brasileiros que estavam indo em direção a Santa Elena e pegamos a velha e boa carona. Apesar do certo receio da carona, o resultado final foi ótimo, porque eles nos deixaram ao lado da pousada e ainda tivemos a oportunidade de trocar dinheiro. O mais legal foi a minha cara de espanto em trocar 30 reais por centenas de notas de bolivar.
Encontramos a nossa pousada a pé mesmo depois de perguntar um pouco. Ficamos na Pousada Piños. Bem melhor do que eu esperava. Recomendo fortemente.
Fechamos nosso pacote pelo backpacker-tours. Em relação ao agencia tivemos uma surpresa desagradável que foi a mudança de dia em função do cancelamento de um grupo. Depois de algumas conversas fomos incluidos em outro grupo com saída no dia seguinte. Apesar do susto, nada que prejudicasse o nosso passeio. Em contrapartida o dono da agencia nos levou para conhecer a cidade e fazer algumas recomendações. Ele tem uma história muito legal. Ele é alemão e fez hotelaria. Viajou vários lugares do mundo procurando emprego como Canada em uma plantação de maças, depois Alaska, Rio de Janeiro e foi parar na Venezuela onde fez familia e montou a agencia.
A conclusão parcial é que a descoberta do desconhecido e o imponderável é uma das belezas a aos mesmo tempo apavorantes consequencias de uma viagem de aventura.
Em relação ao Monte Roraima, ele fica localizado bem na divisa entre Venezuela, Brasil e Guyana. Ele é um lugar inóspito com difícil acesso e com formação geologica unica da epoca pre-cambriana que corresponde a epoca do super continente onde a america do Sul era junto com a Africa a 400 milhões de anos atrás. Optamos por fazer o tracking mais tradicional que leva 6 dias e 5 noites.
No primeiro dia uma grande surpresa. Literalmente quase morri de cansaço nos primeiros 3 km. Foi um verdadeiro cartão de visitas. Com uma sequência de 3 morros super íngremes quase não tive forças para atravessa-los. Depois disso apenas mais 14 km sob um forte sol de 35 graus. Apesar dos contratempos iniciais, o resto do trajeto foi mais tranquilo. Uma grande motivação foi a paisagem do Roraima ao fundo. Eu não me cansava de olhar mas uma dúvida ficava no ar. Como subir ? Parecia intransponível.
A surpresa foi a paisagem. Muito verde apesar do sol, mas que de certa forma reflete a fama de chuva e mudanças drásticas de temperatura. No final do dia chegamos no primeiro ponto de parada para armar as barracas. Este era um lugar com no meio do nada mas com uma pequena casa de barro que vendia cervejas. 10.000 bolívares. Meio caro para o padrão da Venezuela mas considerando toda a logística de transporte o preço fazia sentido. Primeiro jantar com uma bela macarronada. Depois dormir. Meio desajeitado mas consegui dormir.
Durante o dia interagimos um pouco com o nosso grupo de trecking. Ele era formado por 6 russos onde um deles servia como guia particular, um japonês que era cozinheiro em Osaka e que agora estava aposentado e viajava o mundo é nós 2 brasileiros. Por parte do time de apoio um estrutura interessante que incluía pessoas que carregavam malas, levavam equipamento de cozinha e banheiro móvel. Todos eles venezuelanos. O lider do grupo chamava-se Alvan. Ele foi extremamente simpático e atencioso. Inclusive para quem tiver interesse, ele fecha excursões diretamente para Roraima.
No segundo dia o trajeto possuia uma distância um pouco menor. Foram 9 km com o dobro de esforço em virtude da enclinação constante. Subida praticamente o tempo inteiro e debaixo de um sol escaldante. Fechamos o dia em um acampamento ao lado da base da montanha. Um riacho ao lado ajudou com um belo banho. Eu só não contava que eu seria o banquete dos insetos. Um prêmio do dia que foi lembrado pelo restante da viagem foi uma bela bolha no calcanhar.
Dia 3 foi ainda mais desafiador que os dias anteriores. Apenas 4 km nos separavam da base da montanha. O detalhe foi o fato de ser somente subida. Uma subida cheia de pedras onde um simples erro poderia ser fatal. No meio do trajeto havia o passo das lágrimas. Um queda da água no meio da montanha. Em virtude da pouca chuva conseguíamos ver goticulas que se dissipavam em função da altura. Imagem muito legal. À chegada ao topo foi um sensação de alegria mas mais ainda de alívio.yes, we did it. Esta foi um frase que vi na camiseta de um dos membros no nosso grupo. Ainda tivemos tempo para ir ao ponto mais alto de Roraima que se chama Mavericks. Um visual incrível misturado com as dois e fadiga muscular das pernas. A noite foi complexa. Ficamos à beira de um morro para nos proteger do vento e chuva. O problema foi que havia muita areia e ficou uma sujeira infernal. O desnível da terra não ajudava. Foi a pior noite. Devo ter dormido no máximo umas 4 horas e acordado uma dezena de vezes.
Dia 4 foi explorar o monte Roraima. O guia nos sugeriu 2 opções excludentes. Na primeira conhecia algumas das formações mais interrantes e na segunda conhecia o ponto triplo que separava a fronteira da Guiana, Venezuela e Brasil. Esta foi a minha opção. Foram 9 km feitos em 4 horas para ir e a mesma distância para voltar. Além disso conheci o foço, e o vale dos cristais. Este foi o típico passei onde a jornada foi mais legal que os pontos de visitação em si. Literalmente viajei nos pensamentos. A paisagem rústica me fez lembra-se relatos do filmes que falavam de Marte. Literalmente parecia que eu estava em outro planeta. Caminhamos horas sem nenhum contato humano. Perder-se no morro pode ser fatal. Não há onde pedir ajuda.
Uma coisa única foi o almoço. O guia improvisou uma colher com base na folha de planta. Comemos atum com pão indígena. Sensacional. Nem precisa dizer que cheguei quebrado nas barracas.
Dia 5 foi talvez um dos mais cansativos. Acordamos cedo e já descemos morro abaixo. Nunca imaginei que descer poderia levar o mesmo tempo de subir. Muitas pedras escorregadias é muito cuidado. Isso mexe com umgrupo muscular diferente.paramos muitas vezes é tivemos uma conversa muito legal de política com um opositor do governo venezuelano. Ele falou da alegria do governo do presidente Maduro perder o apoio no congresso. Para ele era claro que eram sinais de um nova Venezuela. Depois de voltar a base do dia 2 para um rápido almoço andamos no mesmo dia para a base do dia 1. O fato de ser descida em boa part do trajeto ajudou mas as dores musculares ficaram quase insuportáveis. Tomamos um belo banho em um riacho às margens do acampamento base. Novamente alvo de mosquitos. A noite foi novamente complicada. A falta de roupas limpas e as dores eram bem complicadas de gerenciar.
Dai para frente somente correria. Pegar as malas, tomar banho, esperar o taxista completar o taxi para nos levar, fronteira e hotel em boa vista.
Como conclusões finais eu diria que esta viagem valeu demais. Não foi fácil e exigiu muito mais do meu corpo do que eu imaginava. O monte Roraima em si é único. Parece outro planeta. Resumidamente uma viagem de desafios ao mundo perdido da América do Sul (como é conhecido o Roraima). Yes, we did it.
Perolas:
- Voce fica aqui e eu fico lá. Vamos ser produtivos.
- Eu não sou o Denis
- Duvido que ele sabe o que é Watson
- Vamos redefinir o conceito de furada
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